“Se o onde está distante, você corre até ele” – Dia 1

George Bruce tem 29 anos, prestou vestibular por dez anos até conseguir ingressar em um curso de comunicação na UFPE em Caruaru no início de 2017. Formado em Letras e casado, é pai de três crianças, duas de 7 anos e uma de 3. Trabalha em uma agência de comunicação em Garanhuns, onde mora. A cidade fica a 102 km de Caruaru.

Os gastos mensais podem chegar a R$ 1 mil apenas em transporte intermunicipal (custa entre R$ 42 e R$ 50, ida e volta) e impedem que Bruce consiga assistir as aulas todos os dias da semana. Assim, vai apenas um dia, às quartas-feiras, para não perder o vínculo com a universidade. Muitas vezes, consegue carona na BR para Caruaru – precisa contar com a sorte para alcançar a sala de aula que tanto desejou.

As caronas deixam o aluno, geralmente, na rodoviária, de onde ele segue a pé até a universidade. São 7,6 km de distância. No fim do dia, Bruce pega um ônibus até metade deste mesmo percurso e anda o restante do caminho até a rodoviária, onde pega um ônibus rumo a Garanhuns. Isso quando consegue os R$ 25 do bilhete, o que não é sempre possível. Deixa assim de ver aula em Caruaru por falta de dinheiro. Ao contrário de cidades como Toritama (37,9 quilômetros de Caruaru) ou Cupira (41,2 quilômetros de distância de Caruaru), Garanhuns não oferece transporte gratuito intermunicipal.

Por meio de nota, a Secretaria de Educação do município informou que a prioridade de transporte é para estudantes do ensino básico das redes municipal e estadual. No texto, a secretária da pasta, Kauely Almeida, informa que “Em relação à área de atuação, cabe esclarecer que o município não está impedido de atuar nas demais etapas da educação escolar (ensino médio e educação superior). No entanto, só poderá fazer qualquer investimento ou atividade, nesses níveis, se comprovar o pleno atendimento de suas áreas de competência”.

Já a assistência social do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE informou que as bolsas de auxílio emergenciais não estão disponíveis por falta de verba da universidade. “O que estamos fazendo em casos extremos é fornecer auxílio para o Restaurante Universitário”, disse Patrícia Costa, da assistência estudantil do CAA. Significa dizer que, enquanto estudantes do ensino básico municipal e estadual não forem totalmente atendidos e enquanto a instituição federal continuar com um orçamento federal reduzido, Bruce continuará a empreender uma árdua saga até chegar ao curso desejado.

Reportagem por Luís Lopes.

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